O poder do agro está na mulher rural
Publicado em: 09 setembro - 2020
Essenciais para a produção de alimentos no mundo, as mulheres rurais tem um papel fundamental na evolução global e sustentável do agronegócio
Apesar do constante esforço de movimentos sociais que buscam reivindicar o reconhecimento do papel da mulher no campo, a agricultura ainda é um setor majoritariamente ocupado por homens. Porém, a contribuição das mulheres rurais é uma peça-chave para o desenvolvimento social, para a segurança alimentar e nutricional e para a erradicação da fome no mundo.
Responsáveis por 45% da produção de alimentos no Brasil, as mulheres, na maioria dos casos, trabalham tanto no campo quanto em casa, cerca de 12 horas semanais a mais que os homens e, ainda assim, apenas 19% delas são proprietárias de terras, enquanto os homens detêm 81%.

Ao longo dos tempos, é possível notar que as mulheres atuam e trabalham nas propriedades como um todo: nas lavouras, colheitas e capinando, participando da produção do que se chama “carro-chefe” da propriedade. Entretanto, no dia a dia, nem sempre estão na produção comercial na mesma intensidade que os homens, justamente porque tem todo o trabalho doméstico que precisam assumir sozinhas.
Com uma jornada cotidiana subestimada pela sociedade, as mulheres ocupam espaços de menos poder e menor visibilidade de atuação, mas é importante lembrar que a exclusão delas nas decisões e no menor acesso ao dinheiro não são questões específicas do campo, mas sim globais. “É necessário promover ações que garantam a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Promovendo ações de igualdade de gênero, conseguimos envolver e apoiar as mulheres rurais em todo o mundo”, comentou a gerente de Relações Governamentais da Corteva Agriscience, Rosemeire dos Santos.
Para a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a igualdade de gênero requer condições de igualdade entre homens e mulheres no processo de tomada de decisões; na capacidade de exercer direitos humanos; no acesso a recursos e benefícios, bem como a administração e oportunidades no local de trabalho e em todos os outros aspectos relacionados aos meios de subsistência.
Nos últimos anos, muitas medidas têm sido adotadas para possibilitar a integração das questões de gênero no centro dos programas e de políticas de desenvolvimento. Como exemplo disso, foi lançada recentemente a 5˚ campanha do #Mulheres rurais, mulheres com direitos, promovida pela FAO e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que tem como proposta principal dar visibilidade às mulheres rurais, indígenas e afrodescendentes, que vivem e trabalham em um contexto de desigualdades estruturais e desafios sociais, econômicos e ambientais, agravados pelo impacto da pandemia do Covid-19. “Essa campanha é de valorização das mulheres produtoras rurais. É preciso somar forças para que juntos – governo federal, FAO e organizações parceiras – sejamos capazes de transformar esse cenário de desigualdades sociais e econômicas em relação à mulher trabalhadora no campo”, afirmou a Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina.
No ano de 2020, a edição da campanha quer ressaltar também as mulheres como guardiãs e promotoras do desenvolvimento, seguindo o princípio da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. “O empoderamento das mulheres rurais significa a promoção do crescimento e a produtividade da agricultura, que é o grande motor econômico do Brasil”, comentou a ministra no lançamento.
Estudos comprovam que quando as produtoras conseguem ter acesso igual ao dos homens aos recursos produtivos e financeiros, oportunidades de renda, educação e serviços, há um aumento significativo na produção agrícola e uma redução considerável no número de pessoas pobres e com fome. Porém, os trabalhos e esforços precisam ir muito além das questões inerentes à mulher, atingindo áreas que são consideradas neutras em termos de gênero. “Na Corteva trabalhamos para fornecer treinamento e suporte tecnológico; exploramos maneiras de melhorar a oferta de assistência técnica às mulheres rurais, maximizando o uso da tecnologia – isso foi identificado como uma necessidade particularmente importante nos países em desenvolvimento, onde as mulheres podem não desfrutar de tantas vantagens educacionais e precisam de treinamento voltado para o uso de novos tecnologias”, complementa Rosemeire.
Existem diversas políticas públicas voltadas para garantir a igualdade de gênero para as mulheres rurais e, entre elas, uma muito importante adotada na América Latina, é a adoção de programas destinados a documentar essas mulheres que, além de se afirmarem como cidadãs, também conseguem ter um melhor acesso a saúde, educação, assistência e segurança social, bem como o direto à propriedade de terras, crédito, tecnologia e insumos que garantem mais renda e autonomia econômica. “Queremos ver mais mulheres administrando fazendas, dirigindo tratores, chefiando cooperativas, pescando, plantando e colhendo. Enfim, mais mulheres se beneficiando da pujança do agro brasileiro”, frisou a Ministra.
Manter e aprofundar essas e outras políticas são os desafios que surgem no futuro, além da luta contra a fome e a pobreza, uma das principais questões postas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aprovados pelos países das Nações Unidas em 2015.
Papel de responsabilidade

Corteva Agriscience, Rosemeire dos Santos
As empresas, organizações e cooperativas tem um papel importante a desempenhar na aceleração da taxa de progresso das mulheres. E o cooperativismo, se estabelecendo como um movimento inclusivo e apoiador da diversidade, pode contribuir incentivando o protagonismo das mulheres no agronegócio e dando espaço e oportunidades para que elas cresçam dentro do movimento. “O cooperativismo tem bastante familiaridade com o termo “sisterhood”, que significa irmandade entre as mulheres. Mesmo sem laços familiares uma mulher pode contar com outra mulher e o cooperativismo segue nesta mesma cadeia de pensamento”, ressaltou Rosemeire.
Outro projeto que tem olhos voltados para essa questão é a “Academia de Liderança para Mulheres do Agronegócio”, idealizado pela Corteva Agriscience em parceria com a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) e a Fundação Dom Cabral (FDC), que visa aumentar a participação feminina na gestão das propriedades rurais, com elas conduzindo o negócio e levando representatividade para outras mulheres.
O agronegócio brasileiro está entre os mais competitivos do mundo e milhares de mulheres já atuam no ramo, seja na produção, gestão ou pesquisa científica. Porém, mesmo comprovando sua eficiência e importância, esse grupo ainda não é devidamente apreciado e precisa da união de esforços para que os projetos saiam do papel e se tornem ações. “Precisamos estar atentos e trabalharmos para o protagonismo feminino ser uma realidade cada dia mais presente no meio rural. Para isso empresas, instituições e cooperativas devem dar mais espaço para as mulheres em suas posições de liderança e corpos diretivos”, finalizou Rosemeire.
Por Jady Mathias Peroni – Matéria publicada na Revista MundoCoop, edição 95