PALESTRA: Juiz Sérgio Moro diz que corrupção sistêmica compromete a democracia
Publicado em: 07 novembro - 2016
O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato, em palestra em 31 de outubro, em Curitiba (PR), afirmou que o principal problema da corrupção é o custo que representa “para a qualidade de nossa democracia, que depende muito da fé das pessoas, de que temos representantes públicos que buscam, em sua cargos, a construção do bem público e não que estejam lá movidos por interesses privados”.
Negativo – Falando para um grupo de empresários e lideranças de entidades, durante o “Fórum de Gestão Pública Faciap – Ajustes ou Calamidades”, promovido pela Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná (Faciap) e que está sendo realizado na sede do Sistema Ocepar, em Curitiba, o juiz afirmou que a constatação de um quadro de corrupção sistêmica, além do significativo prejuízo à democracia, “impacta a nossa autoestima como brasileiros, que acabam sendo vistos lá fora como desonestos, afetos à prática do ‘jeitinho’, como alguém que não se importa que seus representantes recebam propina. Isso é extremamente desalentador”.
Custo – O juiz Moro fez um relato detalhado aos presentes sobre a Operação Lava Jato, cujo objetivo é punir os envolvidos nos casos de corrupção na Petrobras, como também em outros órgãos, e contribuir para inibir a prática ilícita entre entidades públicas e empresas privadas. Disse, por exemplo, que a multiplicação dos casos de corrupção tem um custo muito alto para o país. Quando se discute a taxa de retorno de investimentos públicos, segundo ele, é preciso perguntar se “realmente têm o retorno esperado, se estão realmente sendo empregados e se as melhores decisões estão sendo tomadas em relação a esses investimentos”. E destacou que essa prática afasta investimentos externos e internos. “O investidor externo se afastou por não querer participar de um mercado contaminado pela corrupção e o interno relutou em participar de licitação pública porque havia o jogo de cartas marcadas e que, se entrasse, teria de pagar propina de alguma forma.”
Saída – Para acabar com a corrupção, Moro disse que há apenas uma alternativa, a de enfrentá-la. E revelou que sente alegria quando, em suas palestras pontuais no exterior, constata que há uma certa admiração de “o país estar enfrentando o problema com firmeza. O Brasil não é o único país às voltas com esse problema, inclusive com corrupção sistêmica, mas esse enfrentamento é a única alternativa possível e representará ganho de eficiência e de produtividade na economia brasileira e, principalmente, ganho em qualidade de nossa democracia”.
Iniciativa privada – Sérgio Moro enfatizou a importância da participação da iniciativa privada no combate a esse crime. “É óbvio que a corrupção não está identificada apenas com o poder público, pois envolve quem recebe e igualmente quem paga a propina. Por isso, a iniciativa privada pode tomar passos importantes para diminuir esse quadro no Brasil. No fundo, é algo relativamente simples: não pagar propina, por iniciativa individual ou coletiva das empresas”, acentuou.